Cores que vendem! O poder da psicologia da cor para aumentar conversões no ecommerce

Num ecrã de telemóvel, tudo acontece em segundos. Uma pessoa abre uma loja, vê um banner de campanha, sente qualquer coisa – curiosidade, urgência, confiança, estranheza – e decide se continua a explorar ou se volta para o Google ou para o Instagram!

Antes de ler o título da campanha, antes de perceber qual é a promoção, antes de ver se oferecem os portes, já houve um estímulo que atuou em silêncio: a cor. A cor do fundo, a cor do botão, a cor da tipografia, a cor do selo “-40%”. No comércio eletrónico, onde não existe cheiro, nem textura, nem contacto físico com o produto, a cor torna-se um dos principais atalhos emocionais para perceber se uma loja online “merece confiança” e se uma campanha é “forte” ou apenas decoração gráfica.

A psicologia das cores, enquanto área de estudo, procura precisamente compreender como diferentes tonalidades influenciam emoções, estados de espírito, perceções de valor e intenções de compra. Revisões recentes da literatura sublinham que as cores afetam o humor, a avaliação de marcas e o comportamento de compra, e que os gestores de marketing não podem continuar a tratá-las como mero pormenor estético. Em paralelo, investigadores de marketing mostraram que as cores dos sites de e-commerce influenciam a perceção de qualidade, o nível de confiança, o valor percebido e até a tolerância a preços mais altos, sobretudo quando se observam combinações de cor de fundo e preço.

Para as lojas online portuguesas, isto tem consequências muito concretas. Quando chega a Black Friday, há quem invista fortemente em descontos, em tráfego pago e em e-mail marketing, mas mantenha campanhas visuais que podiam servir para “outono” ou “novidades da semana”. Quando chega a Cyber Monday, existem banners que não “respiram” “tecnologia” em lado nenhum. Quando chega o Dia dos Namorados, muitas lojas fazem campanhas quase assépticas, com cores frias e corporativas. Em todos estes casos, a loja está a enviar sinais visuais que entram em conflito com aquilo que o consumidor espera sentir naquelas datas. O resultado é simples: menos cliques, menos envolvimento, menos vendas, mesmo quando o desconto é competitivo.

O objetivo deste artigo é, precisamente, articular três níveis: o que a investigação académica diz sobre cores e comportamento do consumidor, como isso se aplica ao percurso de compra numa loja online e de que forma campanhas específicas — Black Friday, Cyber Monday, Dia dos Namorados, Natal, saldos de verão, campanhas “green”, entre outras — beneficiam (ou são prejudicadas) pelas escolhas cromáticas. O texto é pensado para quem gere lojas online, agencias de marketing digital e equipas de e-commerce, mas também para quem deseja uma base teórica sólida para ensinar ou estudar estas questões.

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Utilize este seletor para alinhar as cores das suas campanhas (Black Friday, Cyber Monday, Natal, etc.) com a paleta oficial da loja e com a psicologia das cores.

O que nos diz a psicologia das cores sobre o comportamento de compra

Uma parte importante da investigação em psicologia das cores mostra que as cores não atuam isoladamente, mas em contexto: contexto cultural, contexto de produto, contexto de categoria. Ainda assim, há padrões relativamente consistentes. Trabalhos como os de Labrecque e Milne chamam a atenção para o facto de a cor ser um elemento central na construção de identidade de marca e na ativação de traços de personalidade percebidos pelo consumidor (por exemplo, um vermelho saturado associado a uma marca mais excitante, um azul escuro associado a uma marca mais competente e fiável). Esta ligação entre cor e traço de personalidade traduz-se em diferenças na forma como o público avalia a marca, como percebe o seu posicionamento e como decide comprar ou não comprar.

Ao mesmo tempo, estudos mais recentes, que agregam resultados empíricos em diferentes contextos (alimentação, retalho, publicidade digital), reforçam a ideia de que a cor influencia o humor, a ativação emocional e as atitudes em relação a marcas e produtos. Cores quentes e intensas, como o vermelho e o laranja, tendem a gerar maior excitação e sensação de urgência; cores frias, como o azul, são frequentemente associadas a calma, confiança e racionalidade; o verde aparece com frequência ligado a equilíbrio, natureza, saúde, sustentabilidade; o amarelo funciona muitas vezes como sinal de atenção e oportunidade.

No contexto online, o problema não é apenas “gosto ou não gosto desta cor”, mas o que essa cor sugere em termos de qualidade, preço e risco. Hsieh, num estudo sobre cores de fundo de sites de e-commerce, mostrou que o simples facto de alterar o fundo de azul (ou baixo brilho) para vermelho (ou alto brilho) altera a forma como os consumidores avaliam o preço e a sua intenção de regressar à loja. Fundos azuis ou de baixo brilho tendem a ser mais tolerantes a preços altos, enquanto fundos vermelhos ou de alto brilho tornam os consumidores mais sensíveis a preços elevados.

Há ainda estudos que analisam o impacto da cor do site na confiança e na sensação de incerteza. Van Doremalen, por exemplo, sublinha que a cor em ambientes de retalho online influencia a confiança inicial e pode reduzir ou aumentar a incerteza do consumidor ao navegar numa loja desconhecida. Em outras palavras: num canal em que a confiança é mais frágil — porque não há contacto físico, nem vendedor presente — a cor pode ajudar a diminuir a sensação de risco… ou a torná-la maior.

Um ponto fundamental que a literatura teórica insiste em destacar é que cor não é um truque isolado, mas um elemento integrado num sistema de estímulos: qualidade do design, coerência visual, adequação ao tipo de produto e, no caso das campanhas, alineamento com os códigos visuais que já existem na cabeça do consumidor. Labrecque e Patrick referem-se a isto como “normas de cor” nas categorias: há cores que os consumidores esperam ver em determinados produtos ou campanhas e, quando uma marca se afasta demasiado dessas normas, pode ganhar diferenciação, mas também destruir valor se a diferença for interpretada como “estranha” ou “desajustada”.

#E74C3C

🔴 Vermelho

Urgência, paixão, ação. Ótimo para promoções e CTAs de tempo limitado.

#3498DB

🔵 Azul

Confiança, segurança, estabilidade. Muito usado por bancos e tecnologia.

#E67E22

🟠 Laranja

Entusiasmo, criatividade, call to action. Estimula decisões rápidas.

#27AE60

🟢 Verde

Saúde, natureza, crescimento. Ideal para orgânicos e sustentabilidade.

#2C3E50

⚫ Preto

Luxo, sofisticação, autoridade. Muito usado em moda e produtos premium.

#9B59B6

🟣 Roxo

Realeza, sabedoria, mistério. Bom para beleza e antienvelhecimento.

#F1C40F

🟡 Amarelo

Otimismo, felicidade, atenção. Excelente para destacar ofertas.

#ECF0F1

⚪ Branco

Simplicidade, limpeza, modernidade. Cria espaço e sensação de clareza.

Como as cores atuam no percurso de compra numa loja online

Se pensarmos no percurso típico de um utilizador numa loja online — chega através de um anúncio ou pesquisa, entra na home ou numa landing page, vê banners de campanha, consulta páginas de produto, eventualmente adiciona ao carrinho e segue para checkout — percebemos que a cor não tem o mesmo papel em todas as etapas. Há momentos em que a cor serve para chamar a atenção, momentos em que serve para acalmar e gerar confiança, momentos em que serve para clarificar hierarquias de informação (preço, desconto, chamadas para ação).

Na home ou na landing page, a cor funciona como enquadramento emocional inicial. Fundos mais escuros com contrastes fortes tendem a comunicar intensidade, exclusividade ou descontos agressivos; fundos mais claros com cores suaves sugerem transparência, tranquilidade e, por vezes, sofisticação. Estudos sobre cores de sites de e-commerce mostram que tanto a tonalidade como o brilho influenciam o humor, a memorabilidade e a intenção de compra, em parte por modularem o estado emocional durante a navegação.

Nos banners de campanha, a cor é praticamente o primeiro argumento de venda. Um banner de Black Friday sem preto e vermelho, ou pelo menos sem um contraste forte que sugira “promoção especial”, corre o risco de ser lido como “mais um destaque” e não como “a grande campanha do ano”. O mesmo acontece com campanhas de Dia dos Namorados sem vermelhos nem rosas, ou campanhas de Natal que abandonem totalmente o universo vermelho/verde/dourado em favor de esquemas cromáticos que nada têm a ver com a memória coletiva associada à época.

Nas páginas de produto, a cor precisa de fazer outra coisa: guiar a atenção para as informações fundamentais (nome, preço, desconto, vantagens, prova social) sem distrair. Aqui entra a evidência de que cores contrastantes nos botões aumentam a probabilidade de clique, mas cores demasiado agressivas ou mal harmonizadas com o fundo podem gerar ruído visual e até levantar dúvidas sobre o profissionalismo da loja. Trabalhos sobre qualidade de sites e intenção de recompra sublinham que a perceção de qualidade visual (que inclui cor, tipografia e layout) é mediadora da confiança e da vontade de voltar a comprar.

Na fase de checkout, a maioria dos autores defende um ambiente visual mais contido: cores claras, combinações de azul e verde, ou paletas que remetam para estabilidade e segurança. Se o banner pode ser emocional, o checkout deve ser mais racional. É aqui que entram o número do cartão, o IBAN, o MBWay — e qualquer excesso cromático que remeta para “gritaria promocional” pode aumentar a sensação de risco. A coerência de cor entre a loja e a página de pagamento, mesmo que esta seja de um fornecedor externo, também contribui para reduzir abandonos por desconfiança.

Finalmente, há um aspeto que é frequentemente ignorado: a fidelização. Cores consistentes, utilizadas de forma estratégica ao longo do tempo, ajudam a construir uma identidade visual reconhecível. Revisões de investigação em marketing e branding destacam precisamente esta função da cor na construção de personalidade de marca e na facilitação da recordação. Quando um cliente regressa à loja online meses depois, é a combinação de nome, logo, cores e layout que lhe diz “já estive aqui, já confiei aqui”.

Como as cores trabalham (ou prejudicam) a Black Friday, a Cyber Monday, o Dia dos Namorados, o Natal e outras datas

Black Friday
O código preto/vermelho e o risco de “inovar ao lado”

A Black Friday tornou-se um ritual global e, como qualquer ritual, solidificou um conjunto de símbolos. No plano cromático, dois dominam: o preto e o vermelho. O preto transmite intensidade, impacto e, em muitos casos, uma certa ideia de “evento único”; o vermelho chama a atenção, ativa a urgência e sinaliza que há promoções fortes. Artigos de divulgação em marketing e exemplos de campanhas de grandes retalhistas mostram a repetição deste padrão visual ano após ano, precisamente porque funciona: o consumidor já aprendeu a associar essa combinação a “descontos agressivos” e a uma janela temporal limitada para aproveitar o preço.

Quando uma loja decide fugir completamente deste código — por exemplo, com campanhas de Black Friday em tons pastel, violetas, azuis suaves ou visuais minimalistas ligeiros — está, na prática, a pedir ao consumidor que faça um esforço adicional para perceber que aquilo é uma Black Friday. As consequências são muito concretas: menos cliques em banners, menor taxa de abertura em e-mails que não trazem os contrastes visuais esperados, menor perceção de que aquela campanha compete com outras da mesma época. Em mercados saturados, onde o utilizador é bombardeado com anúncios, a fidelidade aos códigos cromáticos da Black Friday não é preguiça criativa; é uma forma de garantir que a mensagem é reconhecida em segundos.

Também aqui a literatura sobre normas de cor e diferenciação é útil: diferenciar-se demais face às expectativas da categoria pode destruir valor em vez de o criar. A originalidade não está em abandonar o preto e o vermelho, mas em como os integramos na identidade da marca, na forma como organizamos o layout, na qualidade das fotos de produto e na clareza da mensagem.

Cyber Monday
Azul, cinza e a narrativa da tecnologia

A Cyber Monday é, por natureza, uma campanha orientada para o universo digital e tecnológico: informática, gadgets, eletrónica de consumo, software, serviços online. Por isso, faz sentido que o seu código visual se apoie em cores associadas à tecnologia e à confiança digital: azul escuro, azul ciano e cinzas metálicos, eventualmente com apontamentos discretos de verde “tech”.

Investigações sobre cores e perceções de competência mostram que o azul tende a ser visto como uma cor “competente” e fiável, especialmente em serviços financeiros, tecnológicos e contextos que exigem confiança racional. Se uma loja quer transmitir que entende de tecnologia, que pratica preços competitivos em eletrónica e que oferece um serviço sólido, tem boas razões para construir a Cyber Monday em torno de uma paleta azul/cinza, em vez de recorrer a cores excessivamente românticas ou fantasiosas.

Quando uma loja usa, por exemplo, roxos intensos, magentas ou paletas próximas do universo de São Valentim ou de marcas de moda jovem, para comunicar a Cyber Monday, está a “dizer” visualmente coisas que não têm relação direta com tecnologia. A consequência é uma menor identificação imediata da campanha como “tech”, uma quebra na coerência entre tipo de produto e estilo visual e, em último caso, uma menor predisposição para que o consumidor leve aquela campanha a sério no meio de dezenas de outras ofertas naquele período.

Dia dos Namorados
Quando a cor tem de trabalhar no campo emocional

No Dia dos Namorados, o grande ativo da loja online não são apenas os descontos ou os portes; é a capacidade de ativar uma emoção: romance, desejo, cuidado, ternura. Em termos de psicologia das cores, isso traduz-se num protagonismo claro do vermelho (paixão, intensidade) e do rosa (proximidade, afetividade), frequentemente combinados com detalhes em dourado (valor, sofisticação, celebração). Estudos que relacionam cor e perceções emocionais mostram que estas associações são relativamente estáveis, com o vermelho a ser lido como excitante e o azul como mais competente e frio.

Uma loja que constrói a sua campanha de Dia dos Namorados com azuis frios, verdes corporativos ou cinzentos neutros, sem qualquer sinal vermelho ou rosa, está a abdicar de uma alavanca emocional que já vive na cabeça do consumidor. O resultado é um tipo de campanha “invisível”, que se dilui no resto da comunicação do ano e que não se destaca como momento especial. Isto é particularmente grave em categorias como joalharia, perfumaria, flores, lingerie ou experiências a dois, em que a decisão de compra é altamente emocional e muitas vezes associada a provas de afeto.

Natal
Vermelhos, verdes e dourados como memória coletiva

No Natal, o peso cultural das cores é ainda mais forte. Vermelho, verde e dourado aparecem não apenas em anúncios, mas em decorações de rua, embalagens, montras físicas, escolas, televisão. A psicologia das cores aqui mistura-se com a memória coletiva: o verde da árvore, o vermelho do Pai Natal, o dourado das luzes e dos laços. Investigações sobre branding sazonal e campanhas festivas indicam que as marcas que alinham símbolos, cores e narrativas com as expectativas da época tendem a ser avaliadas como mais “apropriadas” e a gerar respostas emocionais mais positivas.

Se uma loja online decide fazer uma campanha de Natal com uma paleta que poderia servir para Cyber Monday (azul e cinza metálico) ou para Black Friday (preto intenso, sem qualquer sinal de calor), corre o risco de criar dissonância: a pessoa lê “Natal”, mas sente “tecnologia fria” ou “desconto agressivo genérico”. Em épocas como esta — em que se compra para outros, com forte carga de sentimento de família e generosidade — essa dissonância pode reduzir a vontade de comprar mais um artigo, escolher embalagens especiais ou aderir a upsell de produtos complementares.

Páscoa, primavera e saldos de verão
Leveza, luz e energia

Páscoa e primavera evocam, em muitos mercados, ideias de renascimento, leveza, luz e começo. No plano cromático, isso traduz-se em verdes claros, amarelos suaves, rosas e azuis pastel. Já os saldos de verão, por seu lado, beneficiam de cores luminosas e energéticas: laranjas, amarelos vivos, azuis turquesa, brancos que sugerem sol e calor. A literatura sobre associações sazonais de cor mostra que estes padrões, embora não rígidos, são repetidos o suficiente para se tornarem referências para o consumidor.

Uma loja que utiliza cores muito escuras, bordôs pesados ou castanhos de inverno em campanhas de verão cria fricção entre forma e conteúdo. Pode parecer mais “chique” no papel, mas, na prática, reduz a clareza da mensagem: o utilizador não sente uma campanha leve, associada a férias, a roupas mais soltas ou a lazer. Essa sensação, mesmo difusa, pode traduzir-se em menor curiosidade, menor exploração de categorias e menor probabilidade de adicionar mais artigos ao carrinho.

Campanhas “green”, sustentabilidade e a função ética do verde

Nas campanhas de sustentabilidade, consumo responsável, produtos biológicos ou economia circular, a cor verde assume um papel simbólico forte. Estudos na área do marketing “verde” e do packaging sustentável mostram que o verde, combinado com tons terra, azuis suaves e brancos, aumenta a perceção de autenticidade, naturalidade e responsabilidade ambiental, e pode inclusive justificar preços ligeiramente superiores quando o consumidor acredita na narrativa ecológica da marca.

Se uma loja anuncia uma linha “eco”, “bio” ou “sustentável” com paletas neon, pretos agressivos ou dourados ostentatórios, transmite um sinal contraditório: fala em responsabilidade ambiental, mas veste-se visualmente como uma campanha de luxo ou de consumo impulsivo. Num contexto em que os consumidores estão cada vez mais sensíveis à autenticidade (e à suspeita de “greenwashing”), esta contradição cromática pode ser suficiente para os afastar.

A mesma cor não significa o mesmo em todos os mercados

Embora existam tendências transversais (como a associação do vermelho a excitação e do azul a confiança), a literatura deixa claro que as interpretações de cor são moduladas por fatores culturais, religiosos e históricos. Em muitos países ocidentais, o branco está associado a pureza e casamento; em alguns contextos asiáticos, pode estar ligado a luto. O vermelho, em mercados europeus, é muitas vezes sinal de alerta ou desconto; em algumas culturas, é também símbolo de sorte e prosperidade.

Para lojas online que vendem apenas para Portugal, a boa notícia é que grande parte dos códigos globais de campanhas (preto/vermelho na Black Friday, azul/cinza na Cyber Monday, vermelho/rosa no Dia dos Namorados, vermelho/verde/dourado no Natal) são facilmente aplicáveis, porque fazem parte de um imaginário mediático partilhado com outros mercados europeus e norte-americanos. Ainda assim, mesmo no espaço europeu há variações subtis: marcas nórdicas tendem a usar paletas mais contidas e claras; mercados do sul da Europa usam com mais naturalidade cores fortes e contrastes marcados.

Quando uma loja portuguesa começa a vender para outros países, especialmente fora da Europa, é prudente cruzar dados de analytics com testes de cor localizados, por exemplo: variar ligeiramente as paletas de campanha por país e comparar taxas de cliques, tempo de permanência e conversão. Algumas investigações feitas na área do marketing já mostraram que a adequação cultural da cor é uma variável a ter em conta quando se constrói identidade de marca e comunicação global. Ignorar isso pode prejudicar a performance em mercados onde a cor dominante tem conotações muito diferentes.

Porque é que algumas lojas vendem menos nas campanhas justamente por causa das cores

A síntese é menos romântica do que parece: não é raro ver lojas que vendem menos em grandes campanhas precisamente porque escolheram mal as cores. Não porque a cor “hipnotize” alguém, mas porque:

  1. A cor prepara a primeira impressão emocional — antes de qualquer texto, preço ou oferta.
  2. O consumidor traz consigo códigos visuais aprendidos para cada tipo de campanha (Black Friday, Cyber Monday, Natal, Dia dos Namorados, saldos, campanhas “green”).
  3. Quando a loja “inova” de forma desajustada, afastando-se demasiado desses códigos, a campanha deixa de ser intuitivamente reconhecida como tal.
  4. Raramente há uma segunda oportunidade: o consumidor volta ao feed, ao Google ou à app seguinte.

A isto somam-se outros efeitos: cores mal tratadas em fotografia de produto aumentam a probabilidade de devolução; cores mal integradas no checkout podem gerar desconfiança; cores incoerentes com a identidade de marca diluem a memorabilidade. No conjunto, estes “detalhes” convertem-se em menos receita, maiores custos operacionais e menor fidelização.

Perguntas frequentes sobre o que as pessoas querem saber sobre cores e vendas em lojas online

As cores influenciam mesmo a decisão de compra numa loja online?

Sim. Diversos estudos mostram que as cores influenciam o humor, atitudes em relação à marca, avaliação de qualidade, perceção de preço e intenção de compra, tanto em ambientes físicos como online. Em e-commerce, onde a experiência é mediada apenas pela interface, este efeito torna-se ainda mais visível.

Qual é a melhor cor para vender mais no meu site?

Não existe uma “cor mágica” que funcione em todos os contextos. O importante é alinhar a cor com a emoção e o tipo de campanha: vermelho e preto para urgência e grandes descontos (Black Friday), azul e cinza para tecnologia e confiança (Cyber Monday), vermelho e rosa para campanhas românticas (Dia dos Namorados), verde e tons terra para campanhas de sustentabilidade, etc.

Devo mudar as cores da minha marca em cada campanha?

Não necessariamente. A marca deve manter uma identidade reconhecível, mas isso não impede variações sazonais e adaptações pontuais. Uma loja pode manter o seu “turquesa”, por exemplo, e combiná-lo com preto e vermelho na Black Friday, com vermelho e dourado no Natal, com rosa no Dia dos Namorados. A chave é preservar um fio condutor de identidade, ao mesmo tempo que se respeitam os códigos visuais da campanha.

É boa ideia “fugir totalmente” às cores típicas de uma campanha para ser diferente?

À luz da investigação sobre normas de cor, pode correr alguns risco. Diríamos que existem alguma sorte à mistura. Pode gerar diferenciação, mas também pode penalizar o reconhecimento e a perceção de adequação. Em campanhas muito competitivas — como Black Friday ou Natal — afastar-se completamente dos códigos cromáticos convencionais tende a ser mais perigoso do que vantajoso.

As cores do site afetam a perceção de preço?

Sim. Estudos experimentais mostram que combinações de cor de fundo e nível de preço alteram a perceção de qualidade, sacrifício e valor, influenciando a intenção de compra e a intenção de voltar à loja. Fundos azuis ou de baixo brilho tendem a suportar melhor preços mais altos; fundos vermelhos e muito brilhantes tornam os consumidores mais sensíveis a preços elevados.

Como é que posso saber se a minha escolha de cores está a funcionar?

Mais do que opiniões pessoais, importa olhar para dados. Testes A/B com variações de cores em banners, CTAs e fundos, medindo taxas de cliques, tempo de permanência e conversão, são uma forma pragmática de validar hipóteses. Em paralelo, é útil cruzar estes resultados com o calendário de campanhas e com as expectativas visuais do público-alvo para cada data específica.

No fim, o que se pode dizer é que quem domina as cores domina, em parte, a emoção do cliente, e quem domina essa emoção ganha alguns metros de avanço numa pista muito concorrida. Ignorar a psicologia das cores nas campanhas de uma loja online não é apenas uma questão estética; é um risco estratégico que pode estar a custar vendas todos os meses, muitas vezes sem que ninguém se aperceba.

Campanha Emoção dominante Cores recomendadas Cores de apoio Erros cromáticos a evitar
Black Friday Urgência, intensidade, grandes descontos Preto Vermelho Amarelo (poupança) Cinza escuro Campanhas em tons pastel, azuis muito suaves ou layouts demasiado “limpos” que não transmitem a ideia de promoção forte e limitada no tempo.
Cyber Monday Tecnologia, inovação, compras online Azul escuro Cinza metálico Azul ciano Verde “tech” discreto Usar roxo ou magenta como cores principais (associam-se mais a fantasia, gaming ou romance) e paletas “fofas” que não comunicam tecnologia nem desempenho digital.
Dia dos Namorados Romance, desejo, cuidado, intimidade Vermelho Rosa Dourado Roxo suave Construir a campanha com azuis frios, verdes muito corporativos ou cinzentos neutros, sem qualquer toque quente que evoque emoção e ligação afetiva.
Natal Calor, família, generosidade, tradição Vermelho Verde escuro Dourado Branco Paletas demasiado frias ou “cáusticas” (neon, fluorescentes) que afastam a sensação de aconchego, tradição e ambiente familiar associado ao Natal.
Páscoa / Primavera Renovação, leveza, recomeço Verde claro Amarelo suave Rosa pastel Azul claro Fundos muito escuros ou paletas pesadas que evocam inverno em vez de recomeço e luminosidade.
Saldos de verão Leveza, férias, energia positiva Laranja Amarelo vivo Azul turquesa Branco Usar cores típicas de inverno (bordô muito escuro, castanhos pesados) que chocam com a ideia de sol, praia e descontração.
Campanhas “green” / sustentabilidade Responsabilidade, equilíbrio, autenticidade Verde Tons terra Azul suave Branco Recorrer a neon agressivo, pretos muito pesados ou dourados ostentatórios que sugerem consumo excessivo em vez de responsabilidade ambiental.
Lançamento / confiança Credibilidade, estabilidade, profissionalismo Azul Verde Cinza claro Branco Exagerar no vermelho ou laranja em fases em que o objetivo principal é transmitir confiança, estabilidade e segurança na marca ou no serviço.

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